
O milagre de continuar
- Filipa Barbosa
- 21 de out.
- 2 min de leitura
Há dias em que não sei muito bem o que me move.
Não há grandes motivos, nem palavras bonitas que me empurrem.
Só uma vontade pequena, quase invisível, de continuar.
Continuar, mesmo quando o mundo parece distante.
Mesmo quando o corpo pesa, o coração desconfia e o silêncio ocupa tudo.
Já aprendi que continuar não é sempre correr.
Às vezes é só não desistir de levantar.
É fazer o café, abrir a janela, respirar fundo.
É deixar o sol entrar, mesmo sem ter vontade de sorrir.
Continuar é um milagre discreto.
Ninguém repara, mas é ali que a vida renasce:
no instante em que escolhemos ficar,
mesmo sem saber como, nem o porquê de insistir, de resistir , ao tempo , às dificuldades, ao silêncio .
E é nessa escolha pequena e também sagrada, que tudo recomeça.
No fundo, é isso que me salva:
o milagre suave de continuar,
um dia de cada vez.
Mesmo quando não tenho a certeza absoluta do que estou a fazer, mesmo quando o medo parece estar sempre à espreita, pronto para saltar-me para cima e devorar-me.
Há dias em que duvido até do que chão que piso e mesmo assim continuo. Porque quando faço uma retrospectiva, já andei em vales muito mais fundos , já fui engolida por desgostos gigantes, daqueles que traumatizam várias gerações.
Já vivi no inferno.
Então qualquer que seja o meu mal hoje , a minha inquietude, indecisão… Eu sei que já passei por pior , que a idade me trouxe tranquilidade, sabedoria e fortaleza.
Não sigo nenhum guião , reescrevo uma história todos os dias. A falar , em silêncio ,
Hoje, amanhã.
Há dias em que só precisamos de continuar.
Com amor
Filipa



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