Mergulho
- Filipa Barbosa
- 9 de jun.
- 3 min de leitura
Quem me conhece sabe que, mergulho, é uma das minhas palavras preferidas, por tudo aquilo que ela representa para mim. A serenidade ou revolta do mar, o silêncio que se escuta quando mergulhamos e se finda quando voltamos de novo cá a cima.
Por isso mesmo decidi trazê-la hoje para aqui, para a palavra da semana e até talvez quem sabe, para que tu também dês este mergulho comigo.
Eu sabia que havia muito mais de mim para descobrir, mas eu receava o impacto que esse mergulho teria, tinha medo de quem eu encontraria quando regressasse à costa e de quem seria devastado com as águas do meu mar revolto e fosse arrastado para longe da minha praia.
Até que, houve um momento em que senti que não havia mais como fugir. O chamamento que vinha de dentro, uma inquietação silenciosa que sussurrava que era hora de mergulhar.
Era um mergulho a seco, em mim mesma, em mares revoltos que sempre temi atravessar.
Eu penso que há alguma fase da nossa vida, em que todos nós sentimos esse chamamento, todos nós sentimos que há mais para descobrir e que só o conseguiremos quando nos atrevermos a saltar da prancha, da pedra, ou quem sabe até do pontão, como o meu avô Ernesto também me ensinou a saltar.
( Agora que escrevo sobre isto, pergunto-me se tudo o que os meus avós me ensinaram, não teriam sido metáforas da vida, que finalmente fazem sentido )
Eu acho que no início, hesitamos. A superfície parece segura, previsível. Mas a verdade é que não há verdadeira descoberta sem imersão, sem a coragem de ir além daquilo que vemos e que acaba por nos ser confortável.
Então, há um dia que respiramos fundo, fechamos os olhos e entregamo-nos ao salto.
À medida que descemos, percebemos que não estamos sozinhos no nosso oceano interior. Existem correntes que nos arrastam, sombras que nos assustam, memórias que voltam como ondas inesperadas e descobrimos que, no fundo das águas, vivem partes de nós que deixámos esquecidas, sentimentos que enterrámos, verdades que aprendemos a ignorar.
E também há beleza, há tesouros, também há luz, luz essa, que ilumina pedaços de nós que merecem ser vistos. Há uma paz que só se encontra depois do medo, uma clareza que chega quando finalmente deixamos de resistir.
No fundo do mar, onde antes pensávamos que haveria apenas escuridão, encontramos uma nova versão de nós mesmos. Mais crua, mais verdadeira. Mais nossa.
E quando voltamos à superfície, não somos os mesmos. Algo dentro de nós mudou, dessa mudança nasce a certeza de que a cada mergulho, nos tornamos mais inteiros.
Há uns dias atrás eu falava com a minha PT sobre o receio que sentia de expandir, pois há medida que mergulho em mim sinto que cresço, sinto-me a expandir e isso também dá medo, também traz reflexões do género " vou crescer mais para onde? " a resposta dela foi metaforicamente clara : "Estás com medo porque ainda te vês dentro de um aquário, mas tu és a porra de um oceano "
( Eu espero que ela tenha dito mesmo porra e não seja só já a minha imaginação fértil a funcionar )
Depois que ouvi isto, tive uma visão muito diferente de tudo em meu redor e o medo da expansão que é feita em cada mergulho, deixou de me assustar e passou a deixar-me entusiasmada.
Este mergulho já vai longo, daqui a pouco tenho as mão enrugadas.
Atreve-te, respira fundo e salta.
Com amor
Filipa
**Qual será a próxima palavra que nos levará a um novo mergulho? Conta-me nos comentários!



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