Café frio

O café já arrefece se não o bebo segundos após o ter tirado, o tempo já pede recolhimento, mantas fofinhas e meias antiderrapantes pela casa.

O meu coração pede lar.

Na minha infância e adolescência sempre preferi o inverno, identificava-me com ele, a chuva era terapia, lembro-me de uma vez ser chamada ao conselho executivo da escola, porque andei a correr , a dançar e a pular à chuva . Eu e mais algumas amigas , o que os funcionários não perceberam, nem a diretora, foi que nós estávamos a curar, à nossa maneira , estávamos a rir todas encharcadas , a correr de um lado para o outro, a saltar com as nossas botas nas poças, estávamos a viver. Uma liberdade que não tínhamos sentido até então.

A escola não sabia isso e levamos um raspanete.

Com que idade é que começamos a fugir da chuva , a fugir da natureza em geral ?

Começamos a preferir espaços comercias, o escritório , a Netflix …

O inverno era a minha estação preferida porque sentia-o triste como eu.

O café já arrefece se me distraio com a escrita, a escrita pode ser quente como o verão , ou melancólica como o inverno.

A natureza dá-nos espetáculos de pirotecnia , talvez quem sabe, para nos acordar , para nos dizer que a vida vai arrefecer depressa se nos distrairmos .

Entretanto o café arrefeceu, a minha alma mantém-se quente.

Com amor

Filipa