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Encontrei a cura nas palavras e a mim também

  • Foto do escritor: Filipa Barbosa
    Filipa Barbosa
  • há 5 dias
  • 3 min de leitura

Domingo é a apresentação do meu mais recente livro e confesso que o coração bate um bocadinho mais rápido do que habitual , que me esforço para praticar respirações mais conscientes e encontrar dentro de mim as razões para estar neste caminho.

A razão é simples, eu acredito no amor, na cura, no perdão , na leveza de uma vida que desistiu de viver a correr e começou a olhar à sua volta, a dar importância aos cheiros, aos sons, aos silêncios , aos abraços demorados e aos beijos de ternura.

Na minha infância nunca ouvi um “amo-te “

E não foi por falta de amor, foi por falta de palavras.

Então a escrita sempre foi a minha cura, sempre contei aos meus cadernos e diários o que me inquietava, quem me apaixonava , o que temia , aquilo que sentia. Sem saber bem o que estava a fazer , aos 11 / 12 anos eu escrevia textos de dor, de angústia . Lembro-me da minha tia dizer : “ Não gostei , acho que és nova demais para escreveres coisas tão tristes ”

Mas aquilo era eu , era eu a tentar curar-me com a minha escrita, aquilo que não podia contar a ninguém eu escrevia, aquilo que ninguém queria ouvir , eu escrevia. Eu não era nova demais. Eu era dor, angústia, era uma alma solitária , dramática e sofredora. Eu sentia tudo, temia não pertencer, não ser amada, vista ou ouvida, então escrevia, escrevi as dores , os amores e os sonhos.

No 7.º ano a escrita foi o que me salvou para a transição do ano escolar , as minhas faltas, o meu desinteresse escolar ( que não era mais que o meu grito mudo que algo não estava bem cá dentro sabem ? ) , levaram o meu processo a conselho de turma.

Todos votaram a favor de eu transitar de ano , menos um professor, o de educação física , aí como eu odiava educação física , ainda por cima com a natação em contexto letivo e eu cheia de complexos com o meu corpo. O mesmo professor que votou para eu não transitar, falou comigo no ano seguinte , foi ele que me contou o sucedido, disse que os outros professores disseram que eu tinha muita inquietação dentro de mim mas que acreditavam que ainda iam ouvir falar de mim . Ele não. Ele não acreditava nisso. Mas , no ano seguinte contou-me e felicitou-me pela minha mudança de comportamento.

Claro que mudei professor, já não havia natação .

Era só medo , atrás da revolta, das faltas escolares, era só dor , só solidão , nunca foi maldade.

E a escrita sempre foi base.

Domingo vou mostrar mais uma vez a mim mesma, que a miúda da última fila da sala de aula , pode muito bem sentar-se perante pessoas que querem ouvi-la e isso é sobre cura , é sobre amor e propósito.

Eu nunca quis qualquer destaque , eu sempre quis amor.

E domingo mais uma vez é isso que espero, que sintam todo o amor com que escrevo, com que me curo e talvez consiga curar um bocadinho da vossa dor. Não sou pretensiosa.

Sempre temi não pertencer, hoje sei que pertenço. 🤍

E mais uma vez, estou aqui a curar-me em palavras. Na minha infância eu nunca ouvi um amo-te mas hoje eu digo-o a ti.

Amo-te e obrigada por estares aqui.


Com amor

Filipa

 
 
 

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