Terapia de casal
- Filipa Barbosa
- 18 de jun.
- 3 min de leitura
Quando criei este blog, criei-o livre de mim mesma, sem intenção, apenas por amor, por partilha.
Tentei visualizar alguns tópicos que achei importantes, como o separador de poesia ou da palavra da semana, mas nunca quis que fossem só palavras bonitas.
Também não quero que se transforme num diário, quero que seja apenas uma extensão de mim mesma, um lugar onde não há fotos minhas, só há palavras. Onde não é importante quem somos, mas sim o que somos, onde não há aparência de ninguém , só a essência.
Eu e o meu marido passámos por muito, como a maioria dos casais que conheço. Enquanto a vida avançou, nós fomos perdendo o sul, o norte, a conexão e lentamente o silêncio chegou. E não era um silêncio reconfortante, era constrangedor, era frio, vazio de nós mesmos.
Quando olhei, eu já não sabia quem era nesta relação, o que era feito da relação da qual eu tinha memórias tão felizes, ele já não sabia onde eu arrumava o sal na cozinha, já não sabia onde eu guardava os lençóis da cama e pior, já não conhecia o caminho para o meu coração.
Era oficial, sem nos apercebermos fomos perdendo o rastro um do outro, agora que a vida acalmava, que os miúdos cresceram, que as famílias não brigavam, quando deixou de ser :
" nós contra o mundo " passou a ser : " quem somos nós ?".
Esta pergunta começou a ecoar vezes sem conta na minha cabeça, várias coisas foram ditas, outras caladas. Senti culpa, pena, tristeza e solidão.
Senti que de uma maneira muito diferente, eu estava novamente sozinha numa relação.
E pior, sabia que ele também não estava feliz.
Dois estranhos a partilhar contas, miúdos e a cama.
Em abril deste ano decidi que enquanto houvesse 1% de hipótese do nosso casamento evoluir eu ia tentar, ia fazer a minha parte, eu ia ser melhor. Mas para isso era necessário que ele também fizesse a parte dele, senti que sozinhos não conseguiríamos.
Comecei a falar mesmo sentido que era desconfortável, comecei a expressar a minha dor e a descobrir que a dor dele também tinha crescido desde a última vez que tínhamos conversado.
Decidimos iniciar terapia de casal, uma novidade na nossa vida, mas uma esperança para o nosso novo encontro.
Um prédio de traça antiga, numa avenida conhecida de Lisboa, subimos ao 3º andar, uma sala , 3 cadeiras e lá estávamos nós à procura um do outro.
Tem sido um caminho e tanto, temos descoberto coisas, recordado outras, temos em conjunto o objetivo de ser felizes e contamos que seja um com o outro.
Ainda sinto que é assunto tabu, ainda sinto que é um assunto desconfortável para a maior parte das pessoas, dos casais e talvez por isso, este seja o meu 1º texto sobre o assunto, quem me conhece sabe que eu gosto de escrever sobre o que dói, sobre o que é desconfortável, sobre perda, luto e sobretudo, sobre amor. Porque amor é tudo o que sobra, quando nada mais resta.
Eu não acredito numa relação que seja : " até que a morte vos separe " eu prefiro acreditar numa relação que seja : " enquanto decidirem ser felizes ".
Eu e ele decidimos que tal como canta Jorge Palma "Enquanto houver estrada pra andar a gente vai continuar" , seja por mais dois meses, dois anos ou por uma vida inteira.
Este é o poder da terapia, ela ajuda-nos a desbravar as silvas, a sarar as feridas e a encontrar caminhos menos doloridos.
Não sei se conheces alguém que já passou por isso, não sei se tu mesma, na tua relação já sentiste que te perdias, ou que perdias a tua pessoa, só sei que fez sentido para mim partilhar e que citando Bell Hooks : " O amor é uma ação, nunca simplesmente um sentimento".
Adorava saber a tua opinião sobre este assunto e se quiseres podemos partilhar ideias, experiências e pensamentos.
Antes que me esqueça, quero agradecer-te por estares aqui.
Com amor
Filipa
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