
Um dia comum
- Filipa Barbosa
- 4 de set.
- 2 min de leitura
Hoje o país está de luto, Lisboa chora, choramos todos.
Ontem era um dia comum, acordamos , saímos de casa, fomos trabalhar e ao fim do dia , as notícias viraram a notícia, mensagens de alerta, rodapés chamativos, última hora.
Num segundo todas as atenções estavam postas no elevador da glória , todos olhávamos para aquelas imagens e chorávamos por dentro, mesmo sem lágrimas, pois estávamos a sentir muita coisa, menos indiferença.
Todos pensamos , e se fôssemos nós ou os nossos ? E foram . Foram os nossos, foram um de nós. Foram muitos, a viver aquele horror.
A verdade é uma , é transversal a todos :
Nós nunca temos a certeza se voltamos a casa .
Todos os dias quando acordamos, nunca sabemos se nos voltamos a deitar, o mesmo acontece com os nossos, por norma não pensamos nisso, não com esta intensidade, pois fugimos do medo , da dor , como quem foge da cruz. Mas talvez precisássemos de trazer um pouco mais dessa consciência para a nossa vida. Até mesmo para começar a olhar para as pequenas coisas como a dádiva que elas são , para deixar de protestar no trânsito ou nos perdermos na imensidão das notícias, do trabalho , do ódio a futilidades .
É preciso acontecerem tragédias para refletir sobre isto ? Não devia.
Mas lá atrás , em tempos de COVID , prometemos ser todos melhores pessoas, aplaudimos os trabalhadores, respeitamos a família , amamos e tememos por toda a humanidade. Onde está esse medo de perder o que conhecemos como nosso ?
Onde vive hoje esse respeito pelo outro, por nós e pela vida ?
Hoje estamos todos de luto, porque ontem alguém , várias pessoas, saíram de casa , num dia absolutamente comum e já não regressaram , famílias que ficam e têm de continuar a viver sem os seus familiares, amigos , colegas de trabalho , era um dia absolutamente comum …
No entanto deixou de ser , porque a vida como a conheciam , deixou de existir.
Hoje eu também estou de luto.
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